Fotógrafa brasileira identifica a cor Pantone dos diversos tons de pele


Objetivo é provar que o mundo das cores vai muito além do preto e do branco 
A carioca Angélica Dass, ao centro, é a fotógrafa autora do projeto “Humanae” Foto: Editoria de Arte
A carioca Angélica Dass, ao centro, é a fotógrafa autora do projeto “Humanae”EDITORIA DE ARTE
RIO – Ninguém é preto ou branco. Há uma ampla gama de cores e matizes que tornam a simplificação, no mínimo, equivocada. Formada em design e íntima do mundo das cores, a brasileira Angélica Dass, de 33 anos, decidiu que investigaria mais a fundo o tom da pele humana. Em Madri, onde mora há cinco anos, usou a ideia como objeto de pesquisa de seu master em fotografia artística. Com um banquinho, equipamento de luz, câmera fotográfica e um fundo branco, foi para duas feiras de arte. Aos curiosos que passavam por onde ela se instalava, explicava seu projeto, o “Humanæ”: fotografar pessoas de tons de pele diversos para descobrir as correspondências exatas das cores no padrão Pantone — índice de cores bastante utilizado no mundo do design e da moda —, projeto que ela chama de um “inventário cromático”.
A origem da ideia, explica, surgiu há mais de dez anos, da variação de cores de sua própria família. Angélica é negra, neta de descendente de índios e negros e filha de pai negro adotado por família branca.
- Tenho uma família bastante colorida. E todas essas cores estão na minha vida, na minha cabeça e fazem parte da minha cultura. Mas o entorno que eu vivo atualmente é de cores bem diferentes da minha, não tem como não reparar – conta.
Os primeiros testes começaram a ser feitos em abril com a própria família, em uma viagem ao Brasil. Para preservá-la, as fotos tiradas ficaram de fora da versão final do trabalho. Assim, os personagens das 250 imagens feitas até agora, publicadas em um tumblr, são figuras desconhecidas, de diversas idades, que passaram pelas lentes de Angélica em Madri ou Barcelona. A limitação geográfica, ela diz, influenciou o resultado final do projeto, que não conta com tantos negros quanto ela gostaria. Uma lacuna que ela pretende preencher em viagens ao Brasil e ao redor do mundo para dar continuidade ao projeto, que não tem data para terminar.
- Quero fotografar no Brasil, no Brooklyn, e em Xangai para descobrir que cores a gente tem pelo mundo. Sei que é um projeto ambicioso e praticamente infinito. Mas, para mim, a única coisa que é finita é a paleta de cores da Pantone.
Para detectar a cor de cada pessoa, Angélica seleciona, na foto, um quadrado de 11 por 11 pixels no nariz do “modelo”. É da cor que aparece nesse espaço que ela busca uma correspondente Pantone. No espaço do fundo branco, ela aplica a cor Pantone da pele e, numa outra faixa branca, o código Pantone.
Sem autorização ou qualquer relação com a Pantone, Angélica receou ter problemas com a marca. Mas, ufa!, foi reconhecida e recebeu autorização.
- Fiquei contente por eles terem percebido que a intenção do trabalho é artística e não comercial — comemora a designer, que defende o uso da fotografia como um meio de comunicação para discutir questões importantes, como, neste caso, o racismo.
Ela explica, ainda, que sua relação com a Pantone começou bem antes da recente moda que envolve a marca, com a produção de cadernos, capas de celular, canecas e uma gama enorme de acessórios:
- Conheço muito bem esse mundo de cores e comparação. Tinha que escolher um sistema, encontrar uma forma de mostrar as cores das pessoas, além do branco e preto. Pensei no Pantone porque conheço e domino – diz a brasileira, que já estudou moda e é formada em Belas Artes pela UFRJ.
Satisfeita com o resultado e com a repercussão que o trabalho está tendo, Angélica, que antes buscava uma bolsa de estudos, sonha agora conseguir apoio para levar adiante o “Humanae”. Afinal, restam ainda 2.616 cores do padrão Pantone a serem descobertas em peles mundo afora.

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